Uma nova etapa da Operação Mensageiro foi deflagrada pelo Ministério Público de Santa Catarina (MP-SC), em parceria com o Grupo de Atuação Especial de Combate às Organizações Criminosas (Gaeco) e o Grupo Especial Anticorrupção (Geac). A sexta fase da ação expande o alcance das apurações sobre possíveis irregularidades em contratos de coleta, transporte e destinação de resíduos sólidos urbanos firmados por diferentes municípios catarinenses, trazendo novos nomes e empresas para o centro das investigações.
Entre os principais alvos está a Empresa Saays Soluções Ambientais, sediada em Gaspar, cujos dirigentes foram presos preventivamente. As autoridades apontam que a companhia, junto com outras investigadas, teria atuado em esquemas de fraude a licitações, corrupção ativa e passiva e lavagem de dinheiro, obtendo vantagens indevidas em contratos de alto valor no setor de gestão de resíduos.
Prisões de dirigentes em Gaspar
Foram detidos Schirle Scottini, proprietária da Saays; sua irmã Adriana Scottini, diretora administrativa; e Arnaldo Júnior, filho de Schirle e diretor de operações da empresa. O trio foi encaminhado ao Presídio de Blumenau e deverá passar por audiência de custódia ainda hoje.
De acordo com o MP-SC, as prisões foram determinadas porque há indícios de que os três continuavam praticando atos ilícitos, mesmo após fases anteriores da Operação Mensageiro já terem resultado na prisão de prefeitos, ex-prefeitos, empresários e servidores públicos.
A investigação indica que os contratos sob suspeita envolvem milhões de reais e, em alguns casos, teriam sido mantidos por meio de pagamento de propinas e direcionamento de processos licitatórios.
Mandados de busca e cidades envolvidas
Nesta sexta fase, além das prisões, foram cumpridos 36 mandados de busca e apreensão em dez municípios: Gaspar, Blumenau, Rio do Sul, Imbituba, Florianópolis, Bombinhas, Laguna, Braço do Norte, Palhoça e Imaruí.

As diligências resultaram na apreensão de celulares, computadores, documentos e valores em espécie, todos encaminhados para análise técnica. Entre os alvos das buscas também estão o ex-prefeito de Braço do Norte, Roberto Marcelino (PSD), conhecido como Betinho, e o ex-prefeito de Rio do Sul, José Thomé (PSD), que, segundo as autoridades, podem ter ligação com o esquema.
O que está em jogo no “escândalo do lixo”
Desde seu início, em 2022, a Operação Mensageiro já se consolidou como uma das maiores ações de combate à corrupção em Santa Catarina, com foco no chamado “escândalo do lixo”. O caso envolve a investigação de contratos de resíduos sólidos que, segundo o MP-SC, teriam sido manipulados para favorecer empresas específicas, em troca de vantagens financeiras ilícitas.
Os crimes apurados incluem corrupção ativa e passiva, fraude em licitações, organização criminosa e lavagem de capitais. O impacto é significativo não apenas pelo valor dos contratos, mas também pela relevância do serviço prestado, essencial para a saúde pública e o meio ambiente.
Defesa dos empresários
O advogado Wilson Knöner Campos, que representa os dirigentes da Saays Soluções Ambientais, afirmou que seus clientes colaboraram integralmente com as autoridades durante as buscas e que “não têm nada a esconder”. Ele considerou as prisões desnecessárias e disse que pretende solicitar a revogação das medidas assim que tiver acesso aos autos da investigação.
Segundo Campos, a atuação da Saays é legal e as justificativas apresentadas pela defesa são suficientes para afastar as acusações.
Perspectivas para as próximas etapas
O MP-SC e o Gaeco acreditam que a análise do material apreendido nesta fase poderá revelar mais detalhes sobre o funcionamento do esquema, além de identificar novos envolvidos. As autoridades não descartam novas fases da operação, dado o volume e a complexidade das informações levantadas até o momento.
Especialistas alertam que casos como este reforçam a importância da transparência nos contratos públicos e da atuação de órgãos de controle para evitar desvios em áreas críticas como a gestão de resíduos sólidos.
A sexta fase da Operação Mensageiro marca um avanço nas investigações e reforça o cerco contra empresas e agentes públicos supostamente envolvidos no escândalo do lixo em Santa Catarina. Ao ampliar o alcance das diligências e colocar sob suspeita novos contratos, a ação demonstra que o combate à corrupção no setor de resíduos sólidos ainda está longe de terminar.
Enquanto a defesa dos acusados busca reverter as prisões, o Ministério Público mantém o foco na coleta de provas para responsabilizar todos os envolvidos e recuperar eventuais valores desviados dos cofres públicos.
Autor: Sergei Asimov